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Projeto Geração Global - Vela
A explicação vem por partes. Para que as crianças do 4.º ano da EB1 do Chinicato pudessem ter a Vela como opção de desporto escolar, foi necessária a união de muitos esforços. Tudo começou com a implementação do “Projeto Geração Global”, que nasceu do trabalho feito pelo CASLAS (Centro de Assistência Social Lucinda Anino dos Santos), no âmbito do Contrato Local de Segurança, com o apoio do Ministério da Administração Interna e da Câmara Municipal de Lagos. A ideia passava por diversificar a oferta desportiva a uma comunidade diagnosticada como social e economicamente deficitária. Porém, o CASLAS não quis ficar por aqui e, indo além da ideia inicial, convidou a Escola Básica do Chinicato a juntar-se ao projeto. A escolha da Vela como modalidade desportiva, no âmbito do Desporto Escolar, “obrigou” à criação de mais uma sinergia, desta feita entre os dois agrupamentos de escolas de Lagos, uma vez que o AEGE tem o Surf como modalidade de eleição, ficando a Vela ao cuidado do Agrupamento de Escolas Júlio Dantas. Desta forma, ficaram reunidas condições para que, mais de dezena e meia de alunos da EB1 do Chinicato, tivessem um contacto permanente com a Vela ao longo deste ano letivo. Se é verdade que a pandemia colocou o projeto no congelador, agora que o desconfinamento se tornou uma realidade os mais novos voltaram finalmente ao Mar. E aos sorrisos! APRENDER A VELEJAR Ao cuidado dos professores Amélia Viegas e Vítor Rito, os jovens “lobos do mar” só pensavam em entrar na água. Antes disso, porém, tiveram de perceber que é necessário adquirir conhecimentos náuticos. Foi com surpresa que alguns perceberam que, numa embarcação, uma corda afinal chama-se cabo, que para navegar é preciso saber fazer nós e que, no mar, não há esquerda nem direita, mas sim bombordo e estibordo. Mas, mais importante do que tudo isso, perceberam que a Vela é um desporto que exige uma permanente adaptação às circunstâncias do momento, porque o vento muda de direção e todos os sentidos têm de estar sempre despertos. Mais do que isso: apesar de poder ser praticada de forma individual, a Vela é essencialmente um desporto de equipa onde todos têm mesmo de remar para o mesmo lado… Numa terra que tem o Mar como grande âncora cultural unificadora, é difícil entender como é que em Lagos há tanta gente de costas voltadas para os desportos náuticos. Conscientes que essa realidade teria de mudar, todas estas entidades uniram esforços para democratizar a prática deste desporto olímpico, que tanta tradição tem no nosso país. Além da diversificação da oferta desportiva, em termos pedagógicos este projeto tem enormes mais-valias. Estimula o trabalho em equipa, retira as crianças das quatro paredes da sala de aula e coloca-as em contacto com a natureza e o meio ambiente que os rodeia. Cada aula de Vela é também uma aula de cidadania, de ciências, de matemática, de geografia ou de história. Tão ou mais importante que a vertente pedagógica é a questão social. Para muitos, este tipo de projetos abre novos horizontes, rasga um caminho que pode levar à descoberta de um objetivo de vida, ou, pura e simplesmente, é uma descoberta de uma aptidão ignorada. Desta forma, reduz-se o abandono escolar e consegue-se, no futuro, quebrar o ciclo de pobreza e exclusão que muitos estariam vetados. Avaliando os prós e contras, só uma conclusão é possível retirar: projetos como este conseguem fazer muito pelo futuro da comunidade, não num plano imediato, mas seguramente a médio e longo prazo. Quando se fala da importância da escola pública e do elevador social que a mesma tem de ser, eis um exemplo prático como a união de esforços entre várias entidades pode resultar em ganhos pedagógicos, sociais e culturais os homens e mulheres de amanhã. |
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